Lula está certo, mas alimenta o político ao bater em Superman da Faria Lima

Sim, Lula tem razões para estar especialmente furioso com Campos Neto desde 17 de abril. E não esqueci meu primeiro parágrafo, não. Ainda voltarei a ele. Permitam-me reproduzir em negrito trecho de um texto:
Campos Neto tem falado ultimamente mais do que o homem da cobra. Vacilou, e lá está ele num seminário, a exemplo daquele de 17 de abril, em Washington, quando antecipou que, por ele, mandaria às favas a palavra do BC e defenderia uma queda menor da taxa de juros, não o 0,5 ponto que havia sido anunciado. E assim se fez, como sabemos, por 5 a 4.
Na sexta, o doutor agiu como um sabotador. Desconheço caso de um chefe da autoridade monetária que fala para degenerar as expectativas e para tornar ainda mais difícil o trabalho do governo. Os mercados ainda estavam abertos. E o que fez este gigante da “isenção” e do “rigor técnico”, como querem os seus hagiógrafos que hoje ocupam o lugar que já foi do “jornalismo econômico”?
Afirmou que existem vários fatores a apontar uma possível elevação da inflação. E, creiam!, ele evocou o desastre do Rio Grande do Sul vis-à-vis o preço dos alimentos e a questão fiscal. É claro que o país precisa ficar atento a isso tudo, mas indago: cabe a tal autoridade ficar babando pessimismo por aí e se comportar como um anunciador de temporais, agora na economia? É um despropósito. O que aconteceria com alguém que trilhasse esse caminho na iniciativa privada?
E avançou ao elencar os tais “fatores”, além da questão fiscal: o tema externo — suponho que se referisse aos juros elevados nos EUA — e “a credibilidade do BC”. Como é???
Credibilidade do BC??? Certamente o sr. Campos Neto considera que são dignos de todas as honras ele próprio e os outros quatro que mandaram à “zerda” o chamado “forward guidance” do BC — votando por uma queda de 0,25 ponto nos juros — e que perniciosos e ameaçadores são os que cumpriram a palavra empenhada.
Essa fala é muito perigosa. Quando os “fanáticos do campismo” começaram a falar da “divisão do BC”, identificando com o governo os quatro que votaram a favor do cumprimento da palavra do próprio banco, estava na cara que o que se pretendia, desde aquele momento, era pôr sob suspeição um Copom que terá sete dos nove membros indicados por Lula no começo do ano que vem. Todos terão de ser aprovados pelo Senado, conforme a lei da autonomia.”

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Sim, o texto é meu. Está aqui. O InfoMoney informou então:
Dadas no meio da tarde, as declarações de Campos Neto reforçaram o movimento de alta de juros e câmbio. Depois de passarem a metade do dia em queda, os contratos de juros inverteram o sinal e começaram a subir. Por volta das 17h15, as taxas dos contratos de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 avançavam de 10,390%, na quinta-feira, para 10,405%, enquanto a do DI para janeiro de 2027 subia de 11,080% para 11,135%.”

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E é claro que o colunista neurótico e a colunista nervosa não o criticaram. Reparem: ele mudou, numa palestra em Washington, o que o próprio BC havia decidido. Ali as coisas começaram a azedar de vez com Lula, até culminar na láurea da Assembleia Legislativa, proposta por um deputado de extrema-direita que não reconhecia o resultado das eleições de 2022 e no regabofe com Tarcísio se Freitas.

CAMPOS NETO TAMBÉM ACHA QUE LULA ESTÁ CERTO
Por que eu seria contra corte de gastos? Não sou. Onde? A questão é que “Uzmercáduz” resolveram impor o seu “programa de governo”. Ou Lula cumpre ou entra na vara. E o “comentarismo” econômico é um samba-do-mercadista-doido. É certo os valentes resolveram cobrar do presidente um preço — o alvo são os gastos sociais — que não tem equação política sustentável. Querem que ele assassine sua própria biografia, um suicídio político.

Os números da economia brasileira são absolutamente incompatíveis com qualquer depreciação do real além daquela esperada em razão da manutenção dos juros americanos. E a turma “duzmercáduz” sabe muito bem disso. Como sabe que os temores sobre a inflação são exagerados. O próprio Campos Neto falou a respeito, ontem, no seminário promovido pelo Banco Central Europeu em Sintra, Portugal.

Sobre a decisão do Copom, que manteve inalterada a taxa de juros, comentou:
“Isso teve muito mais a ver com muitos ruídos que criamos do que com os fundamentos. E os ruídos estão relacionados a duas coisas, uma é a expectativa na trajetória da política fiscal e a outra é a expectativa sobre futuro da política monetária. Quando tivemos esses dois ao mesmo tempo, isso criou incerteza suficiente para nós”.

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